terça-feira, 28 de outubro de 2008

Debaixo do sol


Antes de tudo. Se esse título te fez lembrar praia ou algo parecido, esqueça. Qualquer associação é mera coincidência.
Continuando. Debaixo do sol é uma expressão que se repete inúmeras vezes no livro de Eclesiastes, que, aliás, se tivesse sido escrito por mim nunca teria esse título. A própria frase “Debaixo do sol”, seria um tema mais sugestivo, já que essa frase revela o assunto principal a ser tratado pelo livro, que são as nuances da vida e da existência humana nos poucos anos de vida terrena.
O livro de Eclesiastes é singular, porque aos meus olhos, nenhum outro livro da Bíblia se mostra tão natural, tão humano, tão próximo do nosso dia a dia, da nossa realidade. A impressão que tenho é que os demais livros das Escrituras são espirituais, elevados, transcendentes demais, enquanto Salomão nesse livro parece se preocupar apenas em mostrar a vida como ela é. Sem anjos, sem visões, sem profecias, sem manifestações sobrenaturais. Apenas a vida.
Lembro-me de ter ouvido uma Pregação do Pr. Lucinho, da Igreja Batista do Getsêmane, dizendo que Deus é Deus e a vida é a vida. Isso porque algumas pessoas possuem uma extrema dificuldade em aceitar alguns acontecimentos da vida, como se algo estranho estivesse acontecendo com elas, quando na verdade não está acontecendo nada de anormal. Na vida debaixo do sol o bem e o mal são possibilidades e Deus não se vê obrigado a intervir, embora o faça quando acha que deve.
Em um mundo decaído a felicidade, a alegria, a tragédia e o absurdo vivem debaixo do mesmo teto. Preste atenção nesses versículos e comprove essas verdades.

“Um justo que morreu apesar da sua justiça, e um ímpio teve vida longa apesar da sua impiedade”. Ec.7:15.
“Há mais uma coisa sem sentido na terra: justos que recebem o que os ímpios merecem, e ímpios que recebem o que os justos merecem. Isto também, penso eu, não faz sentido”. Ec.8:14.
“Percebi outra coisa debaixo do sol: Os velozes nem sempre vencem a corrida; os fortes nem sempre triunfam na guerra; os sábios nem sempre tem comida; os prudentes nem sempre são ricos; os instruídos nem sempre tem prestígio; pois o tempo e o acaso afetam a todos”. Ec.9:11.
“Além do mais, ninguém sabe quando virá a sua hora: Assim como os peixes são apanhados por uma rede fatal e os pássaros são pegos em uma armadilha, também os homens são enredados pelos tempos de desgraça que caem inesperadamente sobre eles”. Ec.9:12.

Quem sabe você não gostou do que leu, mas a observação e a experiência mostram que a vida é assim. A vida aqui embaixo não é justa e muito menos coerente. Alguém pode perguntar: Porque Deus permite essas coisas? Não sei. Talvez para nos lembrar que aqui ainda não é o paraíso, mas que existe um paraíso para aqueles que desejam. Talvez para nos mostrar que na vida existem dois caminhos. Ficar a mercê do acaso e da sorte ou se lançar confiantemente nos braços de um Pai de amor, cuja palavra diz que “Todas as coisas cooperam juntamente para o bem daqueles que o amam”. Rm.8:28.

Pense nisso.

“Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e obedeça os seus mandamentos, pois isso é o essencial para o homem”. Ec.12:13.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Espiritualidade burocrática


Vou tentar tornar mais clara minha reflexão tomando como exemplo uma repartição pública.
Sem querer colocar todo mundo no mesmo saco, mas a maioria das instituições governamentais são vistas como lugares desorganizados, precários e pouco eficientes, onde as coisas até acontecem, mas de forma muito morosa. Em muitos desses lugares as pessoas apenas estão presentes. Batem cartão na entrada e na saída, mas produzem pouco e empurram com a barriga tudo que deveria e poderia ser feito de forma rápida e excelente. Alguns chegam a ponto de nem comparecerem diariamente ao local de trabalho se dando ao luxo de apenas assinarem o ponto no final do mês. O que quero dizer com isso?
Essa mesma realidade pode ser vista na vida de muitos de nós. Será que também não estamos burocráticos em nosso relacionamento com Deus?
Quantas vezes vamos a igreja apenas bater ponto? Freqüentamos aos cultos toda semana, fazemos nosso devocional diária e regularmente, oramos, lemos a Bíblia, participamos de algum ministério, mas a questão é, de que forma estamos fazendo as coisas? Com fervor? Com alegria? Ou por obrigação, empurrando tudo com a barriga? Para Deus não basta fazermos as coisas,tão importante quanto isso é como fazemos as coisas.
Oração sem entrega e quebrantamento são apenas palavras vazias. Leitura da Palavra sem a devida atenção para se ouvir deus falar é apenas religiosidade. Fazer parte de um ministério sem amor e dedicação é ativismo, desperdício de energia. Ir ao templo sem a consciência de culto é perda de tempo, é ser burocrático, é bater cartão.
Quantas vezes apresentamos nosso currículo religioso e burocrático para Deus baseados em números e performance fazendo dele um instrumento para barganharmos algumas benções com o Senhor, como quem diz “Deus faça isso, Pai faça aquilo. Eu tenho estado sempre na sua casa, eu oro, eu leio a tua Palavra, eu faço a sua obra ...”. Como se fazendo isso o beneficiado fosse Deus, como se Ele precisasse dessas coisas e se nós não as fizéssemos Deus estaria perdido. Talvez exista até alguém que pense “O seria de Deus sem mim”.
Precisamos abandonar essa espiritualidade burocrática cheia de formas e aparência que não nos faz crescer, amadurecer e frutificar. Onde o tempo passa e continuamos as mesmas pessoas: descuidados, desorganizados, lentos, morosos no crescimento e no aprendizado das coisas espirituais. Não sejamos funcionários públicos espirituais.

“Não sejais vagarosos no cuidado, mas sede fervorosos no espírito”. Rm.12:11.

Pense nisso.